4.7.11

Quem é careta?

A  acelerada e plugada geração Y é mais conservadora que os pais na hora de investir o dinheiro.
Por Juliana Schincariol
Eles são agitados, fazem várias coisas ao mesmo tempo, estão sempre plugados, são ambiciosos e querem subir depressa na carreira. Esse é o retrato da grande maioria dos brasileiros nascidos entre 1980 e 1995, a chamada geração Y. Qualidades como agilidade, arrojo e ânsia por fazer e acontecer perpassam quase todas as esferas da vida deles – família, trabalho e relacionamentos. No entanto, quando o assunto é dinheiro, a coisa muda de figura. Quem imagina que as pessoas dessa faixa etária sejam também audaciosas e não titubeiem na hora de assumir riscos, certamente vai se decepcionar. A moçada, é preciso dizer, é muito mais cautelosa, avessa a grandes emoções e careta na hora de fazer render suas economias.
É o que mostra uma pesquisa sobre os hábitos de investimento da geração Y promovida pelo Banco Santander, que consultou 100 mil clientes de todas as faixas de idade, pertencentes ao segmento Van Gogh, destinado ao público de alta renda. A conclusão da pesquisa, à qual a DINHEIRO teve acesso com exclusividade, é que a geração mais jovem e plugada, mais ágil e, de certa forma, mais descompromissada, é muito mais conservadora que seus pais na hora de investir.
Segundo a pesquisa, apenas 9,35% dos clientes da geração Y, que estão com o Santander há mais de três anos, possuem investimentos mais arrojados em sua carteira. O levantamento mostrou que 82,1% dos recursos alocados por essa geração buscaram a segurança da velha e pouco rentável caderneta de poupança. Já seus pais, os chamados baby boomers, nascidos entre 1946 e 1964, dedicam apenas 44,3% do seu dinheiro à tradicional caderneta. Essa geração tem muito mais ações e investimentos de risco em carteira do que seus filhos.
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É uma inversão de valores: se os pais são arrojados, os filhos são tremendamente certinhos – pelo menos na hora de falar com o gerente do banco. Segundo Edson Franco, superintendente de investimentos do Santander, que coordenou a pesquisa, os resultados indicam uma atitude muito mais cautelosa em relação ao dinheiro. Os investidores mais jovens não descartam a hipótese de dedicar uma fatia maior de seu patrimônio às aplicações mais agressivas, mas só quando tiverem um conhecimento mais aprofundado de como esses investimentos funcionam. Enquanto isso, a ordem é evitar riscos.
Como explicar essa mudança? A nova filosofia de investir está muito ligada às alterações profundas na economia brasileira dos últimos anos, em especial o fim da inflação. Quem nasceu em meados da década de 1980, tinha apenas dez anos de idade quando o dragão foi domado e a vida tornou-se mais previsível, de um ano para o outro. “Ao poderem planejar, o natural é que esses investidores comecem a investir pelo que é mais básico”, diz a consultora Nathalia Souza, especializada em pesquisa de mercado, que elaborou um estudo encomendado pela BM&FBovespa para saber o que faz com que os jovens invistam em ações.
De acordo com Nathalia, a relação das pessoas com o dinheiro mudou no Brasil. Em vez de perseguir as grandes metas que seus pais levavam toda a vida para alcançar, como a compra da casa própria ou do carro da família, eles agora têm objetivos menores, mais imediatos e mais acessíveis. “Os clientes mais jovens trocaram um grande sonho em um futuro distante por uma coleção de pequenos sonhos para daqui a pouco”, diz Nathalia. Essa previsibilidade combina melhor com aplicações mais garantidas, ainda que menos rentáveis. Também afasta os jovens das ações, que têm de ser encaradas como uma aplicação de longo prazo. “A promessa de rentabilidade precisa ser muito boa para que um investidor jovem se conforme em aplicar em uma ação durante três ou quatro anos”, afirma Navarro.
O estudante Gabriel Vichy, de 22 anos, é um bom retrato dessa perspectiva. Cursando engenharia civil em uma faculdade pública em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro, o rapaz não dispensa uma balada nem nos dias de semana, a não ser quando seu amado Fluminense entra em campo. Suas despesas se resumem à manutenção do carro, pagamento do cartão de crédito e telefone celular, além das viagens e lazer. Mesmo assim, ele não deixa de poupar. Todo mês, destina de R$ 100 a R$ 300 a aplicações como CDBs e títulos do Tesouro. Gabriel não segue os exemplos de casa.
Sua mãe, a empresária Rosângela Vichy, investe em ações e em fundos multimercados. “Ela só não arrisca mais porque meu pai não deixa”, diz Gabriel. Por enquanto, ele nem pensa em colocar uma pitada de risco nas suas aplicações. “Primeiro, estou juntando dinheiro e a bolsa está sem tendência, o que dificulta ainda mais a minha decisão”, diz. “Quando houver mais certeza, eu invisto.”
Outra mudança observada é que os jovens investem, ao passo que seus pais “guardam” dinheiro, o que indica que as motivações são totalmente diferentes. O “guardar” do passado significava proteger o dinheiro em meio aos solavancos da inflação e das crises econômicas. Essa conduta tem consequências ainda hoje, quando se comparam a parcela de investimentos conservadora dos jovens e do pessoal com mais de 30 anos. Os mais velhos, observa Nathalia, optam por investimentos que oferecem, antes de tudo, segurança, como cadernetas de poupança, título de capitalização ou previdência privada.
Já os mais jovens preferem investimentos de baixo risco, mas cujo principal chamariz é a rentabilidade, como CDB e fundos de renda fixa. “São aplicações procuradas por pessoas que não buscam se proteger, mas multiplicar seu patrimônio”, afirma Nathalia.
Não apenas os motivos, mas a forma de escolher o investimento mudou. A geração Y é extremamente curiosa e gosta de decidir por conta própria. Basta perguntar à analista de mídia paulista Nicole Esteves, de 22 anos. Boa parte de seus investimentos está em aplicações de renda fixa, como CDBs.
Ações? Claro! Mas não agora. “Eu pretendo investir no mercado de ações no futuro, quando compreender melhor como ele funciona”, diz ela. “Por enquanto, fico no que é mais seguro.” Segundo a consultora Nathalia, esses investidores são individualistas e preferem tomar as próprias decisões, ainda que seja depois de conversar com uma entidade impessoal conhecida como “a galera” – a rede de amigos virtuais. Não por acaso, os bancos têm apostado tantas fichas em ferramentas de comunicação para eles, em especial as redes sociais como Twitter e Facebook. “Essa geração faz parte da sociedade da informação”, diz o consultor financeiro Conrado Navarro, de São Paulo. “Se um gerente oferece um produto, a primeira coisa que ele faz é pesquisar na internet para entender como funciona.”
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