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O pior pesadelo do gastador
“Os juros compostos são a maior invenção da humanidade, porque permitem uma confiável e sistemática acumulação de riqueza”. Esta frase é atribuída a ninguém menos que Albert Einstein, uma das mentes mais brilhantes do século passado. Podemos afirmar que o brasileiro mediano conhece muito bem o poderoso efeito dos juros sobre juros. É uma pena que, inserida em uma cultura que sobrevaloriza o ter acima do ser, a maioria de nós só conhece o lado danoso dos juros compostos. É certo que a cultura do consumo não
se restringe ao Brasil, suas proporções são pandêmicas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o endividamento das famílias no final do ano passado, exceto hipotecas, beirava 20% do PIB, conforme
relatório do Federal Reserve – FED. A diferença entre lá e cá é que, para nós, a antecipação do consumo é substancialmente mais cara.
Aqui, segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo – CNC, em dezembro último, quase 60% das famílias brasileiras estavam endividadas. Naquele mês, o cartão de crédito, com suas taxas absurdas, foi a principal fonte de endividamento para mais de 70% dessas famílias. Financiamentos da casa própria foram citados por pouco mais de 3% dos entrevistados. Mais de 8% dos endividados reconheceram não ter condições de saldar seus compromissos.
Os números retratam com bastante fidelidade o que é a educação financeira em nosso País. Em regra, somos ávidos pelo presente e, de forma ingênua, delegamos ao governo as preocupações quanto ao nosso futuro. Quem nunca ouviu expressões como “só se vive uma vez!” e “caixão não tem gaveta!”? Frases como essas são usadas não só para justificar o comportamento compulsivo de quem as diz, mas também para criticar aqueles que procuram reservar parte da renda para investir e assim buscar maior tranqüilidade financeira. É comum caricaturar o poupador como sovina e incapaz de aproveitar as coisas boas que o dinheiro pode proporcionar, escravizado por sua avareza.
Diz-se que o poupador não vive, ou pior, que vive para o dinheiro. Deixados os casos extremos à parte, a lógica sugere o oposto. Ora, quem acumula dinheiro alcança liberdade, habilita-se a fazer o que quiser e quando desejar, e pode assim alçar vôos mais altos, porque não se acorrenta a boletos e carnês; quem gasta tudo o que ganha e tem visão imediatista, só consegue acumular contas e, dessa maneira, não concede a si as escolhas realmente importantes. De fato, o escravo do dinheiro não é o poupador; é o consumista, que vive para seu vício e, por este vício, sua vida se consome.
No fim das contas, endividamento, consumo compulsivo e incapacidade de poupança apresentam raízes psicossociais bem evidentes, das quais, em vista do propósito deste texto, destacaremos duas: impaciência e vaidade. Em geral, queremos tudo para ontem e nos preocupamos demais com a opinião dos outros. São atitudes que, no tocante a investimentos, revelam-se destrutivas e consubstanciam-se em barreira intransponível para que a “maior invenção da humanidade” trabalhe em nosso favor – assunto para o próximo artigo.
Aurélio Palos - Graduado em ciências econômicas e mestre em economia do setor público pela universidade de brasília.